RESPIRAÇÃO CELULAR
Em qualquer transformação de energia, a energia livre (mais organizada e concentrada) tende a passar para uma forma menos organizada e menos concentrada, a entropia. As células precisam de energia para não se desestruturarem e para promoverem seus processos mecânicos, elétricos, osmóticos, bioquímicos. Mas, ao utilizar esta energia, a célula a desorganiza e a dissipa, de modo que não pode voltar a usá-la. Portanto, as células, como unidades metabólicas, precisam de um fluxo de energia exterior que venha de uma fonte até elas. Pela natureza destas fontes, dividimos os seres vivos em autótrofos e heterótrofos. Os autótrofos têm a capacidade metabólica de sintetizarem, para o seu sustento, moléculas orgânicas a partir de substâncias inorgânicas de baixo peso molecular, como a água e o gás carbônico. A fotossíntese é um exemplo de processo anabólico realizado por seres autótrofos. Os seres heterótrofos não têm esta capacidade metabólica e por isso precisam obter matéria orgânica pronta para sua nutrição. A degradação de compostos orgânicos com a finalidade de obtenção de energia é denominada catabolismo. O catabolismo libera energia química potencial, parte da qual toma a forma de calor. Já o conjunto de reações que sintetizam matéria orgânica e protoplasma é conhecido como anabolismo. A síntese de proteínas é exemplo de atividade anabólica importante nos processos de crescimento, substituição tecidual e desenvolvimento do ser vivo. A fotossíntese também é um importantíssimo processo bioquímico anabólico. O catabolismo libera energia química, parte da qual toma a forma de calor. Um adulto de peso normal consome cerca de 2.500 kcal por dia. Esta energia é necessária para a contração muscular, para o transporte de substâncias e íons através da membrana plasmática, para a produção de proteínas, enzimas e ácidos nucleicos, etc. Por exemplo, a formação de uma ligação peptídica necessita de 0,5 a 4 kcal de energia, dependendo dos aminoácidos que serão ligados quimicamente. Um processo muito generalizado entre os seres vivos (desde bactérias até mamíferos) de obtenção de energia é a oxidação da glicose até dióxido de carbono e água. Se a glicose fosse queimada num forno, sua total oxidação liberaria 686 kcal/mol. Nas células, a oxidação da glicose ocorre em etapas, sendo um processo parcelado de degradação. Deste modo, a glicose é quebrada por uma série de reações bioquímicas, envolvendo um quantitativo numeroso de enzimas e produzindo uma série igualmente numerosa de compostos intermediários. Durante a oxidação da glicose, a energia é tranferida para nucleotídios fosforilados: o trifosfato de guanosina (GTP), o trifosfato de citosina (CTP), o trifosfato de uracila (UTP) e o trifosfato de adenosina (ATP). Destes, o mais importante é o ATP. Os outros nucleotídios fosforilados são convertidos em ATP. A coenzima A, também um nucleotídio, é substância importante nos processos oxidativos da glicose. A figura a seguir (retirada de Alberts et al., 1997, p. 59) representa a fórmula estrutural do trifosfato de adenosina e da coenzima A. O ATP é o nucleotídio trifosfatado mais importante. Ele participa das inúmeras reações e processos metabólicos relacionados à transferência e conversão de tipos de energia. A hidrólise do radical fosfato terminal do ATP, formando difosfato de adenosina (ADP) e fosfato inorgânico, libera energia livre de 7,3 kcal/mol, quantidade apropriada para as funções celulares. A energia do ATP é disponibilizada para as células pelo acoplamento da hidrólise desta substância a reações químicas que requeiram energia. No hialoplasma, existe apenas uma pequena reserva de ATP, de tal maneira que, à medida que ele é utilizado, deve ser reposto por meio de reações que fosforilam o ADP a ATP. Existem dois mecanismos de regeneração do ATP. O primeiro é a fosforilação pelo nível de substrato, em que um radical fosfato é transferido para o ADP por um composto intermediário, a fim de formar o ATP. Este tipo de fosforilação pode ocorrer na ausência de oxigênio, condição denominada de metabolismo anaeróbico. Como exemplo deste tipo de fosforilação, temos: a glicólise (primeira etapa da respiração celular) e a fermentação. O segundo mecanismo de produção de ATP é a fosforilação oxidativa, que ocorre nas membranas internas das organelas denominadas mitocôndrias, e que exige a presença de oxigênio molecular. A fosforilação oxidativa produz a maior parte do ATP utilizado pelo organismo. O conjunto das reações que compõem a fosforilação oxidativa é chamado metabolismo aeróbico. As reações metabólicas que degradam a glicose e obtêm energia para a célula são do tipo oxidação-redução (também denominada oxirredução). Quando um composto químico (molécula, íon) perde elétron ou higrogênio, diz-se que houve oxidação. Ao contrário, se uma espécie química ganha elétron ou hidrogênio, observa-se uma redução. A maior parte da energia da glicose é retirada por meio de reações de oxirredução. Nestas reações participam substâncias conhecidas como coenzimas. As mais importantes coenzimas carreadoras de elétrons são o dinucleotídio de nicotinamida-adenina e o dinucleotídio de flavina-adenina. As formas oxidadas dessas coenzimas são abreviadas por NAD+ e FAD+; as formas reduzidas são NADH e FADH2. A coenzima A transfere radicais acetil e será comentada mais adiante. A figura a seguir (retirada de Alberts et al., 1997, p. 71) mostra, em (A), a estrutura do NAD em estado oxidado e estado reduzido; e em (B), a transferência de hidrogênio de uma cadeia carbônica para o NAD oxidado (NAD+). A primeira via do metabolismo energético da glicose é a glicólise. A glicólise ocorre totalmente por enzimas dissolvidas no hialoplasma. Este processo metabólico não exige oxigênio molecular e pode ocorrer na sua ausência. A glicólise produz duas moléculas de ATP (por fosforilação pelo nível de substrato) para cada molécula de glicose consumida. Em geral, nas células, a concentração de glicose é muito menor que a do líquido extracelular. Essa diferença de concentração (=gradiente de concentração) é mantida por regulação homeostática. Quando as moléculas de glicose adentram no hialoplasma muito rapidamente, vão para a via de oxidação (glicólise) ou são armazenadas sob a forma de glicogênio. Como resultado final, a concentração hialoplasmática de glicose é muito baixa, o que faz com que exista sempre um gradiente de concentração que favorece a difusão de glicose para o interior da célula. A glicose é uma molécula muito polar, de modo que, mesmo havendo um gradiente de concentração, ela não atravessa a membrana plasmática. Na maioria dos tecidos, o transporte de glicose exige a ação do hormônio pancreático insulina, que regula a entrada de glicose e aminoácidos nas células. Primeiramente, na glicólise, a molécula de glicose é convertida em glicose-6-fosfato, numa reação dependente do gasto de ATP. A segunda reação é a conversão da glicose-6-fosfato em frutose-6-fosfato, com o gasto de uma segunda molécula de ATP. Nas diversas etapas que seguem, a cadeia de seis carbonos da glicose original é quebrada em dois fragmentos, cada um com três carbonos, as moléculas de gliceraldeído-3-fosfato e estas, por fim, em duas moléculas de ácido pirúvico ou piruvato. A conversão de duas moléculas de gliceraldeído em duas de piruvato produz duas moléculas de ATP, duas moléculas de NADH e 56 kcal de calor. Como duas moléculas de ATP foram gastas no início do processo, o resultado efetivo é de duas moléculas de ATP para cada molécula de glicose. A conversão de um mol de glicose em dois moles de piruvato resulta na produção de dois moles de NADH. Esse NADH deve ser reoxidado para que a glicólise continue. Se o piruvato vai para a mitocôndria (metabolismo aeróbico), o NAD+ será regenerado por essa via. Se a célula não possui enzimas para o metabolismo aeróbico ou não há oxigênio disponível, a célula regenera o NAD+ pela conversão de piruvato em ácido láctico, processo em que o NADH transfere o hidrogênio para o piruvato. As células musculares esqueléticas, em ausência de oxigênio molecular, podem realizar esta glicólise anaeóbica com produção final de ácido láctico ou lactato. Após a glicólise, o piruvato vai para a mitocôndria onde é transformado em grupo acetil (molécula com dois carbonos), que, por sua vez, é degradado no ciclo de Krebs, onde se produz mais 36 moléculas de ATP para cada molécula de glicose processada O ciclo de Krebs, ou ciclo do ácido cítrico, é uma seqüência circular de oito reações que ocorre na matriz mitocondrial. Nessas reações, os grupos acetil (que provêm dos dois piruvatos que, por sua vez, vieram da glicose) são degradados em duas moléculas de gás carbônico, ao mesmo tempo que quatro elétrons são transferidos para três NAD e um FAD, e uma molécula de ATP é formada por fosforilação pelo nível de substrato. A degradação total dos grupos acetil pelo ciclo de Krebs é explanada na figura a seguir. (figura retirada de Alberts et al., 1997, p. 661) Para entrar no ciclo do ácido cítrico, o piruvato deve ser, primeiramente, descarboxilado, liberando CO2 e formando NADH. A molécula de gás carbônico produzida será, tal qual outras resultantes do ciclo de Krebs, excretada no nível dos alvéolos pulmonares, no processo conhecido como respiração sistêmica. A molécula com dois carbonos (grupo acetil) combina-se com a coenzima A, formando a acetil-CoA. radicais acetil provindos de lipídios também entram no ciclo de Krebs como acetil-CoA. Alguns aminoácidos oriundos do catabolismo de proteínas podem ser convertidos em intermediários do ciclo de Krebs. Durante as reações do ciclo, são retirados hidrogênios do acetil e estes são passados para os nucleotídios NAD+ e FAD, que levam estes hidrogênios para as cristas mitocondriais, onde acontece a fosforilação oxidativa, que gera ATP. No processo de fosforilação oxidativa ocorrem: o transporte de elétrons; a síntese de ATP por meio de uma enzima; o consumo de oxigênio molecular e a produção de moléculas de água. A maior parte do ATP formado na respiração celular provém do processo de fosforilação oxidativa que ocorre nas cristas mitocondriais. Nas membranas internas da mitocôndria existe uma série de enzimas contendo ferro (chamadas citocromos) que constituem a cadeia respiratória. Os citocromos da cadeia respiratória, inicialmente, transferem os elétrons do NADH e do FADH2 para si e, após, cedem estes elétrons para o oxigênio, reduzindo-o a água. No processo de transporte de elétrons ao longo da cadeia respiratória, acontece liberação de energia. Parte dessa energia é perdida (dissipada) sob a forma de calor, ourta parte é usada para transportar prótons (H+), através da membrana interna, da matriz até o espaço intermembranoso. Deste modo, a energia é guardada sob a forma de um gradiente de prótons entre a matriz e o espaço intermembranas. Os prótons acumulados tendem a voltar para a matriz e o fazem atravessando a enzima ATP-sintase, situada na membrana interna mitocondrial. A ilustração a seguir (retirada de Alberts et al., 1997, p. 673) esquematiza a enzima ATP-sintase: Quando os prótons atravessam a enzima, sua energia é utilizada para produzir ATP a partir de ADP e um fosfato inorgânico (PO4---).Esta teoria que procura explicar a síntese de ATP a partir da energia do gradiente de prótons é conhecida como hipótese quimiosmótica. O fluxo de prótons do gradiente pode ser comparado à água de uma represa que tem sua energia potencial transformada em energia elétrica quando da passagem da água por uma turbina. A próxima figura (retirada de Alberts et al., 1997, p. 674) representa a passagem dos prótons do gradiente através da ATP-sintase com a conseqüente produção de ATP: Ao final do transporte de elétrons pela cadeia respiratória, estes elétrons liberaram uma energia suficiente para, por meio da ATP-sintase, regenerar trinta e seis moléculas de ATP; somando-se os 36 ATP às duas moléculas de ATP sintetisadas pela glicólise, no hialoplasma, temos o total de 38 moléculas de ATP formadas a partir da energia química oriunda de uma molécula de glicose. A figura seguinte (retirada de Alberts et al., 1997, p. 662) esquematiza o processo geral da oxidação da glicose pela mitocôndria. Note o detalhe do transporte de elétrons e a formação do gradiente de prótons e a síntese das moléculas de ATP. No catabolismo de lipídios, os ácidos graxos passam a ser a fonte principal de cadeias carbônicas a serem oxidadas para obter energia para a produção de ATP. Cada radical de dois carbonos de um ácido graxo gera uma molécula de acetil-CoA ,que entra para o ciclo de Krebs. Um triglicerídio, por exemplo, é formado por três ácidos graxos unidos a uma molécula de glicerol. Portanto, a partir de uma única molécula de triglicerídio pode-se obter muitos grupos acetil, o que faz com que o teor de armazenamento de energia dos lipídios seja bem maior do que o dos glicídios. Cadeia Respiratória Processo metabólico de síntese de ATP a partir da energia liberada pelo transporte de elétrons na cadeia respiratória. Esta fase ocorre nas cristas mitocondriais. · · · o Energia Livre Þ obtida do transporte de elétrons o Uma enzima transmembrana denominada ATPase A Energia: · o Durante o fluxo de elétrons Þ Liberação de energia livre suficiente para a síntese de ATP em 3 locais da cadeia respiratória: Complexos I, III e IV. o Estes locais são denominados "SÍTIOS DE FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA". o Nestes locais Þ A liberação de energia livre é em quantidade semelhante à necessária para a síntese do ATP. Não utiliza o oxigênio, e é também denominada de fermentação. Ocorre em certas bactérias - fermentação ácida (lática ou acética) e em levedos, fermentação alcoólica. Produz 4 ATP e consome 2, produzindo um saldo de apenas 2 ATP. É utilizada na industrialização do pão, laticínios e de bebidas alcoólicas. As leveduras são células eucarióticas que possuem mitocôndrias e realizam os dois tipos de respiração simultaneamente. As fibras musculares estriadas também realizam os dois tipos de respiração. A dor muscular observada após exercício físico intenso deve-se ao acúmulo de ácido lático entre as fibras musculares. Esse ácido leva de 7 a 10 dias para ser reabsorvido pelo organismo. Fermentação Alcoólica C6H12O6 ==== ® 2 CO2 + 2 C2H5OH + D G = 2 ATP Fermentação Lática C6H12O6 ===== ® 2 C3H6O3 + D G = 2 ATP Todas as células vivas possuem uma elevada organização interna que é composta pela associação de substâncias orgânicas e inorgânicas. O estado de organização interna não é espontâneo nem permanente; e, por ser instável, pode reverter muito facilmente ao estado inanimado. O que mantém as características que diferem o vivo do não-vivo é uma entrada constante de energia. Segundo a Termodinâmica, há duas formas de energia: a energia livre ou utilizável. a entropia ou energia não utilizável.
Catabolismo e Anabolismo
Adenosina Trifosfato
Carreadores de elétrons: NAD e FAD
Glicólise
Ciclo de Krebs
Cadeia Respiratória e a Fosforilação Oxidativa
Depende de alguns fatores:
AUTOR: SILVIA DIECKMANN